Pessoa é natural
Pessoa é natural e escreve naturalmente
Simplesmente acontece
É-lhe natural ser, ser o seu ser
E Ser outros seres
Natural
E espontâneo
Espontâneo como um aborto pode ser
E sem nascer, é de moto-próprio
Que se apropria de outros seres
É com naturalidade que escreve o que lhes vai na alma
Faz acontecer versos perfeitos
E impávido, rasga as páginas secas
Senta as duas partes juntas
Ponderadamente amarrotadas
Num caixote raso
Acaso o manuscrito interesse
Se nasce
Fá-lo consciente
Como consciente são os rios
Ao Escolherem a que mares irão morrer
É tão natural como a árvore que escolhe a cor verde para as suas folhas
e que vai por ai desarvorada Contorcendo-se pelo parque
À procura de lugar onde afundar suas raízes
É tão natural como o trovão
Decidido a cortar a noite seca
em dois
Diogo Baião