quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Corrente do Mundo

Oferecemos-te o real fantástico 
Pousámos teu corpo sobre tua alma
E um e outro numa alcofinha de palma
Levada na correnteza de plástico 

nas margens os eucaliptos vocálicos 
Ardiam como um rastilho de pólvora 
pintando os restantes em tons de abóbora 
Como Ininflamáveis mastros metálicos 

E lá veio o Homem com as suas regras
Jogar todo este arvoredo ao fundo 
Das águas negras sobre águas negras
Ver-te descer na corrente do mundo

Homem este que num acto perverso
Plantou labaredas em teu redor
Fantástica força que noutro verso 
Te plantou a ti minha filha meu amor 

Diogo Baião 

domingo, 3 de setembro de 2017

(F)ilha

E a minha filha 
dorme tão bem 
Que para sua mãe 
É como de amor uma ilha 

Onde se passa amor e mais nada
Tanto que não ouço gritos de ajuda
Da minha amada, filha amada
Que não fala mas não é muda 

E dorme tão bem 
A minha filha 
Que nem incomodo sua mãe
Com o meu acordar de gravilha
Quando saio para o trabalho
Onde como enfermeiro
a trabalhar Me valho
A talhar o dia inteiro 

Até me talhar numa ilha 
Tanto que me ouvem gritar por ajuda 
Pela minha amada, amada filha 
Que não fala mas não é muda 

Diogo Baião 





  


sábado, 24 de junho de 2017

Fogo Posto

Pessoa é natural 
Pessoa é natural e escreve naturalmente 
Simplesmente acontece
É-lhe natural ser, ser o seu ser
E Ser outros seres
Natural
E espontâneo
Espontâneo como um aborto pode ser
E sem nascer, é de moto-próprio 
Que se apropria de outros seres 
É com naturalidade que escreve o que lhes vai na alma
Faz acontecer versos perfeitos
E impávido, rasga as páginas secas 
Senta as duas partes juntas
Ponderadamente amarrotadas
Num caixote raso
Acaso o manuscrito interesse 

Se nasce
Fá-lo consciente
Como consciente são os rios 
Ao Escolherem a que mares irão morrer
É tão natural como a árvore que escolhe a cor verde para as suas folhas
e que vai por ai desarvorada Contorcendo-se pelo parque 
À procura de lugar onde afundar suas raízes 

É tão natural como o trovão 
Decidido a cortar a noite seca 
em dois 

Diogo Baião 





quinta-feira, 16 de março de 2017

Man shaped father

Weather and thought are aloud
Above the cloud shaped clouds
And if I could feel, that would be the feeling
Under the sky shaped ceiling

And if I could feel, warm would be the feeling
Under the sky shaped ceiling
Made of glass
Burning the house shaped grass

I wish I could stand above the cloud shaped clouds
Where weather and thought are aloud
And if I could feel, desire would be the feeling
Under the sky shaped ceiling

And If I could feel, freedom would be the feeling
Breaking through the sky shaped ceiling
Like a man shaped rocket
With two Russian dolls in my pocket

And if the earth could feel, pity would be the feeling
Under the sky shaped ceiling
And so the earth bowed
I could finally stand above the cloud shaped clouds

I could finally take the dolls from my pocket
Giving them life from my heart shaped locket
Taking one from inside the other
Making them a child and a mother

And if I could feel, love would be the feeling
Above the sky shaped ceiling
Above the cloud shaped clouds
Where wheather and thought are aloud.

Diogo Baião





terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

As Gordas

As gordas escocesas
Sabotam a banda gástrica
Liquidificando tudo com a varinha mágica

As gordas irlandesas
Sentam a fome à mesa
E fazem do menino e da menina sobremesa

As gordas galesas
Cavalgam vassouras na apanha do joio
E enterram-nas sôfregas para servirem de apoio

As inglesas
Voltam gordas da guerra
Porque as outras gordas
Lhes serviram terra.

Diogo Baião

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Estupor

Em pálidos braços 
Disse me a minha mulher um dia
Amar cada palavra por mim falada
E mesmo que eu não dissesse nada
Assim me amaria

Agradeço tamanho louvor 
Por ser tão amado 
E ficar calado 
Por amor

Isto não é gratidão mas queixume
Sobre a oralidade do amor sem desejo 
Antepondo a palavra ao beijo 
Entre cândidas bocas do cardume

Se falo
É por ócio 
Faço-o por amor ao próprio 
E em mim me lambuzo e regalo

Devoro-me sôfrego, extingo-me, em dor
Sou Terminal transporte 
Na morte 
E no amor 

E Em pálidos braços 
Disse-me a minha mulher um dia
Amar cada palavra por mim falada
E mesmo que eu não dissesse nada 
Assim me choraria

Diogo Baião

sábado, 14 de janeiro de 2017

Perinatal

a ventania que me vai
no seio perinasal esquerdo
é tal que me estala o forro
interno da sobrancelha
rachando esguia
rebobinando pelo osso
até que se me cospe o olho da cara
p
e
n
d
u
r
a
d
O
esbugalha-se no sentido do meu atacador que está,
como se diz em alemão, desatacado.