quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Love

 is bread for silverware
 is a dragged horn
 is clinically:
 The birds and the bees and some   arrhythmias
 is angina pectoris radiating to the eyes
 is healing the stem of a flower with a plaster of Paris 
 is breaking the lamps
 and cover the windows with newspapers 
 to let yourself be stabbed
 is to see all in shadow and white
 is good morning
 is good afternoon
 is Bonjela
 is turning gallows into swings
 is the placebo effect of poetry
 is using a pacemaker as a pocket watch
 is a dignified erection
 is a bullet
 is the God particle
 is the beginning and the end
 is the pinnacle of progress
 is the heart’s phantom pain
 is the smell of flowers
 is caring for dust
 is a fundamentally human hunger

 is having no idea of what any of this means

 Knowing it’s love

domingo, 4 de agosto de 2019

The Artist (Revisited)

On my street 
Lives a beggar who’s blind
Deaf-mute and has a lame leg

(For practical reasons I shall refer to this man as 
The deaf-mute who’s a beggar)

He suffers from these chronic conditions in the most acute manner
And in his most acute moments 
The deaf-mute who’s a beggar 
Mumbles in a confessional tone
Resembling background noise
Walks as if he had a propeller for a leg
And carries a registered blind card
Laminated

The deaf-mute who’s a beggar does all this
Because begging requires talent 

He usually sleeps directly under the moon 
And in one of these nights 
Under one of these moons 
I saw him making the bench:
Folded corners 
Decorative pillows  
And a blanket 

It made me wonder if
When the deaf-mute who’s a beggar
Goes to sleep 
Leaves the limp at the door
Hangs the mutism
And sets the blindness 
On his bench side table  

Made me wonder if he listens 
And even interprets 
If he speaks 
And even expresses opinion

Then if the deaf-mute who’s a beggar
Is not deaf 
mute 
blind
Or has a lame leg 

He’s rather the great pretender 
And deserves to be paid for it 

Poorly paid craft 
The one of being artist

Diogo Baião 

terça-feira, 19 de março de 2019

Em Vão

Conduzir em sentido contrário 
Ao contrário do que se diz
Condiz com a vida 
E perco-me nesta condição 
De a imaginar

“Promete-me que não irás Imaginar a vida da nossa filha em vão”

Ao imaginar quebro promessas
Quando na ecografia 
já lhe via a espinha
E na espinha o sorriso
E no sorriso uma espinha
De um peixe que pesquei 
No rio nabão
Ou que comi na Travessa do Rio Nabão nr17
Em São Domingos de rana 
Numa inauguração que não chegamos ir
Por estarmos imigrados na Irlanda do Norte
Sei que pelo menos um de nós estava 

Imagino a vida da nossa filha
Em vão 
De escada 
e lá se parte uma perna

Sim não sou louco de imaginar uma vida perfeita  

Brincas de filha
eu de Pai
Sou cliente no teu café 
As palavras não nos chegam
E à falta delas ri-se chora-se
E então ri-mos de fome 
de sono
Porque sim porque não porque senão 
Falamos e ninguém nos entende 

Adormeces na cadeirinha dos meus 
braços 
E eu nas poltrona dos teus
De cabeça apoiada no meu fim 

No fim
A poesia 
Nunca teve raiz na experiência 
Ou na vontade

Mas sim na premonição

Simões Baião 


terça-feira, 5 de março de 2019

Há Vida

A mosca da carne 
já não brota dos cadáveres 
A mosca já não quer nada com a morte da gente
A carne humana já não é
Entre as matérias podres
o adubo predileto

À volta do corpo
No momento exacto 
não da morte
Mas da sua certificação 
Faz-se da maneira como se quer o chá 
A característica mais vincada do ser 
Então Se o morto for inglês
A morte cai melhor 
Erguendo-se 
Como mesa de apoio 
Onde se pousam chás  
E biscoitos  

Rituais e ritualinhos
Toque suave Nos cuidados ao corpo 
Que a alma tem sono leve 
Tiram-se os anéis 
Com um truque de cordel
À falta de cordel
Besuntam-se os dedos petrificados
com manteiga 
Que as famílias querem se gordas
Se é para sofrer 
mais vale que seja de barriga cheia 

Enfia-se então o corpo
Casuloso
(Ou seria caloso?)
Bem etiquetado 
Não se vá cremar os vivos
No frigorífico 

Ouve-se o burburinho 
Na negociata activa dos elementos
No concurso pela decomposição 
Dos componentes humanos 
desumanos e mundanos 
Do corpo
(Há gente para tudo)

Enterramos os Mortos
Vivos
Sem deixar morrer
Complicamos a morte
Ao agravá-la 
Sem sabermos que
Depois da morte 
Há vida 

A nossa   

Simões Baião 




terça-feira, 31 de julho de 2018

Valene

Rush Valene
Valene you’re rushed
Like the body
Rushes the blood

And thus floods
The heart with blood
Breaking like the death
Thickening like mud

Calm redness
In three arteries
Mostly the main
Rush the body
With breathtaking pain

Rush Valene
Valene you’re rushed
Like the body
Rushes the blood

Like Morphine
Rushes the vein
Taking away Valene
The breathtaking pain

But breathtaking Valene
Let me just say
That strong morphine
Might take your breath way

Simões Baião