A mosca da carne
já não brota dos cadáveres
A mosca já não quer nada com a morte da gente
A carne humana já não é
Entre as matérias podres
o adubo predileto
À volta do corpo
No momento exacto
não da morte
Mas da sua certificação
Faz-se da maneira como se quer o chá
A característica mais vincada do ser
Então Se o morto for inglês
A morte cai melhor
Erguendo-se
Como mesa de apoio
Onde se pousam chás
E biscoitos
Rituais e ritualinhos
Toque suave Nos cuidados ao corpo
Que a alma tem sono leve
Tiram-se os anéis
Com um truque de cordel
À falta de cordel
Besuntam-se os dedos petrificados
com manteiga
Que as famílias querem se gordas
Se é para sofrer
mais vale que seja de barriga cheia
Enfia-se então o corpo
Casuloso
(Ou seria caloso?)
Bem etiquetado
Não se vá cremar os vivos
No frigorífico
Ouve-se o burburinho
Na negociata activa dos elementos
No concurso pela decomposição
Dos componentes humanos
desumanos e mundanos
Do corpo
(Há gente para tudo)
Enterramos os Mortos
Vivos
Sem deixar morrer
Complicamos a morte
Ao agravá-la
Sem sabermos que
Depois da morte
Há vida
A nossa
Simões Baião
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