Conduzir em sentido contrário
Ao contrário do que se diz
Condiz com a vida
E perco-me nesta condição
De a imaginar
“Promete-me que não irás Imaginar a vida da nossa filha em vão”
Ao imaginar quebro promessas
Quando na ecografia
já lhe via a espinha
E na espinha o sorriso
E no sorriso uma espinha
De um peixe que pesquei
No rio nabão
Ou que comi na Travessa do Rio Nabão nr17
Em São Domingos de rana
Numa inauguração que não chegamos ir
Por estarmos imigrados na Irlanda do Norte
Sei que pelo menos um de nós estava
Imagino a vida da nossa filha
Em vão
De escada
e lá se parte uma perna
Sim não sou louco de imaginar uma vida perfeita
Brincas de filha
eu de Pai
Sou cliente no teu café
As palavras não nos chegam
E à falta delas ri-se chora-se
E então ri-mos de fome
de sono
Porque sim porque não porque senão
Falamos e ninguém nos entende
Adormeces na cadeirinha dos meus
braços
E eu nas poltrona dos teus
De cabeça apoiada no meu fim
No fim
A poesia
Nunca teve raiz na experiência
Ou na vontade
Mas sim na premonição
Simões Baião