quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Amar

Tenho dois pares de óculos
O primeiro para encontrar o segundo
e o segundo para ver
Pena que só tenho um coração
O mesmo para sentir e para sofrer

Sendo que sentir e sofrer
Não estão no mesmo plano
Mesmo que não dê para crer
ambos me dão prazer
É assim que eu amo

Diogo Baião 28/08/2014

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Royal Greed

I was born in Lisbon,
In a London day.
(I still recall the rain, I must say).
And the Doctor, his holy grace,
Staired at me with such a glaze
And said:
" this child is upon a great curse
The worst of the worst.
This child is going to be a nurse."

You couldn't believe the tears running down my mother's face,
And despite all her efforts that would be my fate.
She burned out forests, but I wouldn't become a fireman.
I had no compassion for the plants 
But for the man.
She bought me all kinds of animals, but I wouldn't become a veterinary.
I guess my love for the man was hereditary.
She showed me the stars.
She wanted me to be the first man on Mars.
But I wanted to stay right here on earth
To fulfill my destiny of becoming a nurse.

Be aware! There is nothing good about a curse.
Let me quiet your heads while you speculate.
I will tell you exactly what happen twenty six years after that exact date.

It was my first day on the job,
Thirteen southwest was the ward.
The curse in charge gave me three patients,
And the doctor prescribed three conversations.
I thought to myself, I have no time for this kind of medication.
They picked up the wrong words
As I lacked time
To make them understand 
That their world is also mine.

I found my first my patient lying in bed, 
As I spoke the word hope
I pushed him to the edge 
And he hanged himself with a rope.

I tried to reach the second one
To avoid the worst
But despite my presence 
He was Already alone.

I still had the last one to save.
These weren't only thoughts, these were words I was willing to say,
That I actually ended up writing on his grave.

Finally as I lie old and helpless on the sidewalk,
I scream " is there any nurse with time to talk"

Diogo Baião 11/08/2014



quarta-feira, 30 de julho de 2014

Cabelos Castanhos

A gola é apenas a moldura dos meus acabamentos
em madeira de baco.
Assim escorrem os meus lamentos 
num soalho basco.

Diogo Baião 30/07/2014

Cabelos Brancos

Vestida com um pijama de rapaz,
para vestir um de homem, do que será ela capaz?

Botão saltitante num colchão jugular,
boca entreaberta, qual ferida rasgada!
Entregue ao sono no pós-degolar.
Entregue ao jugulo, dorme descansada.

Diogo Baião 30/07/2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Quebra-esquinas

Tenho um Castelo em ruínas
e é só do conhecimento dela e do alheio,
que três faces que se cortam, formam as minhas esquinas,
a dela, a dele e a minha no meio.

É um castelo como outro qualquer.
Paredes, quatro cantos, quatro salas e artérias.
Desfeito por uma mulher,
desfeita pelas suas misérias.

É tudo meu! Pedra sobre pedra!
Sou o quebra-tudo!
Ruo em tom agudo.
Sou tudo o que quebra.

Violentamente apelido as pedras como minhas
e a mulher também.
Da verdade fico aquém,
de quem é esta quebra-esquinas.

Podia chamar-se quebra cantos
em vez de quebra-esquinas,
mas de que vale rimar mais com os seus encantos,
do que com as minhas ruínas?

Encantos, encontros,
quebra, não quebra, ousa, não ousa,
para ela estão sempre prontos
para quebrar qualquer cousa.

Encamisados tornozelos
joelhos em crosta,
labios que se desfiam novelos
nas mãos do quebra-costas.

Vigilante cego na minha torre,
vigio a sua rotina,
enquanto o meu castelo morre,
esquina atrás de esquina.

Investida a investida rui o meu muro
segundo proeminentes vozes,
proeminente e duro
já vai no segundo, craq craq, é o quebra-nozes.

Vigilante cego na minha torre
vejo-a. Ela é a erosão e a frigidez.
O meu castelo morre,
uma esquina de cada vez.

Na resolução da mentira proposta,
coração à razão não desobedeças,
nesta esquina suposta
deste quebra-cabeças.

Vigilante cego na minha torre,
desmorono assim
O meu castelo morre
por fim.

Chama-se quebra-esquinas
bem como quebra-corações,
pois rima tanto com as minhas ruínas,
como com os meus grilhões.

Diogo Baião

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Poema do Ciúme

A arma secreta
Em nada tem amor.
Que ao menos fosse reta
- Falo-vos eu, a vossa dor.

Poderia chamar-se morte
E ao menos que assim fosse.
Chamemos-lhe apenas pouca sorte
Com sinais, sintomas: soluços e tosse

Fastio, 
Uma e outra convulsão
Entre dois corpos e um vazio.

Poderia chamar-se com certeza adultério,
Mas não é mais do que imaginação,
A base de todo este impropério.

Diogo Baião

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ópera 88

A reserva de números
em pó, bem espalhados pelo ponteiro
de uma bússula que estica os úmeros
de um coração inteiro.

Estica-os aos dois bem a cima
e é tal a indiferença,
que a despreocupação da rima
já é doença.

E é tal a naúsea dos empregados,
todos eles homens,
que não só trocam os lençóis,
como queimam o colchão,
fecham o quarto,
e encerram o piso.

Lembro-me que o nosso quarto
era ao fundo do corredor
e eu gritava mudo no parto
do meu amor.

Ainda acordo em suor, encharcado,
levanto-me e arrasto a placenta.
Piso-a em soluços engasgado,
há dois anos, antes dos noventa.

Diogo Baião

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Inveja

De onde vem esta inveja por sua excelência?
A excelência de Hemingway.
O que teremos em comum? - Não sei,
para além desta decadencia.

Será desta minha falta de gola,
ou desta falta de mãos?
Para abanar esta orla
e dizer que o que escrevo são meros grãos.

Grãos de um Homem sem nome,
de um Homem que não me mata a fome,
fome esta, que me engole.

Então planto raios de sol,
a escolha do solo é o meu erro.
Afinal, planto caminhos de ferro.


Diogo Baião